Autores
Julio Plata-Bello, *María Yaiza Pérez-Martín, Montserrat González-Platas, Víctor Fajardo-Santana, Kritsia Sinay Fumero-Revetti. Serviço de Neurocirurgia, Hospital Universitário das Ilhas Canárias, San Cristóbal de La Laguna, Espanha
*Autor para correspondência: [email protected]
Declaração: Os autores declaramque não têm nenhum conflito de interesses.
Referência: EMJ Neurol. 2018;6[1]:46-48. Abstract Review No. AR1.
Antecedentes
Mais de 65% dos pacientes com Esclerose Múltipla (EM) normalmente apresentam deterioro cognitivo, tanto na fase inicial, quanto na etapa avançada da doença; esse deterioro progride ao longo do tempo. A Esclerose Múltipla pode afetar consideravelmente a qualidade de vida do paciente, tanto no âmbito profissional, quanto na vida pessoal e cotidiana em geral.
O tratamento cognitivo oferece resultados contraditórios, provavelmente porque as intervenções e as medidas de resultados são heterogêneas. Apesar disso, vários estudos têm demonstrado que a intervenção neuropsicológica pode ter efeitos favoráveis no desempenho cognitivo dos pacientes. Especificamente, há evidências de que a reabilitação cognitiva assistida por computador melhora o desempenho em testes neuropsicológicos; por esse motivo, projetou-seum estudo para avaliar a eficácia da aplicação de uma terapia de reabilitação cognitiva assistida por computador em pacientes com EM.
Métodos
Doze pacientes foram incluídos no estudo. Todos os pacientes tinham diagnóstico de EM remitente-recorrente clinicamente estável, um deterioro cognitivo de leve a moderado, de acordo com o estabelecido pela Brief Repeatable Battery of Neuropsychological Tests de Rao (BRB-N), tinham um nível adequado de acuidade visual, e todos tinham mais de 18 anos de idade. Os pacientes foram avaliados em três ocasiões: no início do estudo, na oitava semana e na décima sexta semana.
Os pacientes foram agrupados aleatoriamente para receberem o tratamento após a primeira avaliação (Grupo 1), ou após a segunda avaliação (Grupo 2). Essa avaliação consistia em uma avaliação neuropsicológica (utilizou-se versões alternativas da mesma bateria para reduzir os efeitos relacionados com a prática); um estudo de ressonância magnética funcional (que incluiu uma ressonância magnética funcional em estado de repouso, uma imagem com tensor de difusão e uma morfometria baseada em voxel); e uma amostra de sangue para identificar alterações plasmáticas associadas ao fator neurotrófico derivado do cérebro, que participa nos processos de plasticidade neural (NEURONAL). Adotou-se essas medidas para identificar possíveis biomarcadores de eficácia terapêutica.
Todos os pacientes receberam 24 sessões de terapia cognitiva assistidas por computador com o programa NeuronUP. NeuronUP é uma plataforma web de neurorreabilitação que contém atividades que abrangem 40 processos neuropsicológicos. A duração de cada sessão de reabilitaçãoera de 45 minutos, três vezes por semana, durante oito semanas; na casa do paciente.
Resultados
Os resultados preliminares mostraram melhorias significativas na memória verbal, na memória visual diferida, na memória de trabalho e na fluidez semântica.
A análise dos dados estruturais da RM (morfologia baseada em voxel) mostrou um aumento de 0,7% no volume total de substância cinzenta na maioria dos pacientes. Além disso, os estudos de ressonância magnética funcional em estado de repouso revelaram uma diminuição da amplitude fracionária das flutuações de baixa frequência no córtex cingulado — região envolvida nos processos de aprendizagem e memória — e na área frontal média (Figura 1); sugerindo que a reabilitação cognitiva melhora o desempenho cognitivo e pode provocar mudanças estruturais e funcionais no cérebro dos pacientes com EM.
Figura 1: Diminuição da amplitude fracionária de flutuações de baixa frequência no córtex cingulado e na área frontal média, após o tratamento.
Conclusão
Esses resultados indicam que a terapia de reabilitação cognitiva pode favorecer a neuroplasticidade ao induzir mudanças na reorganização cortical, o que ajudará a melhorar a reserva cognitiva ou cerebral.
Referências
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- Muñoz Céspedes JM, Tirapu Ustárroz Rehabilitation programs for executive functions. Rev Neurol. 2004;38(7):656-63.
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