Uma pessoa transgênero é aquela que sente uma dissonância entre o sexo biológico e sua identidade de gênero. Em muitas ocasiões, os conceitos sexo e gênero são usados de forma indistinta e inadequadamente, o que pode gerar uma confusão quando se trata de temas como esse. Portanto, é necessário, em primeiro lugar, esclarecer o significado e as diferenças de cada termo1.
- Sexo: características biológicas e fisiológicas que definem uma pessoa como homem ou mulher. O sexo inclui hormônios, órgãos genitais, cromossomos sexuais e genética, e é atribuído ao nascer, levando em consideração todos esses fatores.
- Gênero: características socialmente construídas que definem o papel de uma pessoa na sociedade, classificando-a como masculina ou feminina. O gênero inclui identidade, comportamentos e crenças, e determina a forma como uma pessoa deve interagir com as outras do mesmo sexo ou do sexo oposto, no âmbito familiar, na comunidade, e no ambiente de trabalho.
O que é a disforia de gênero?
Com esses dois conceitos claros, a disforia de gênero (DG) pode ser entendida como um diagnóstico psiquiátrico caracterizado por um mal-estar psicológico significativo devido a uma dissonância entre o sexo biológico, atribuído ao nascer, e a identidade de gênero. Essa dissonância geralmente aparece muito cedo, de modo que as crianças com DG mostram comportamentos e preferências que não correspondem ao seu sexo biológico2.
Critérios para o diagnóstico da disforia de gênero
Critérios para o diagnóstico da disforia de gênero em crianças
De acordo com o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, quinta edição (DSM-V)3, os critérios para o diagnóstico de disforia de género em crianças, são os seguintes:
- Uma forte incongruência entre o sexo que a própria pessoa percebe ou expressa e o que lhe foi atribuído ao nascer; tendo uma duração mínima de seis meses. Essa inadequação é manifestada por, no mínimo, seis das seguintes características, das quais, uma deve ser o Critério A1:
- Um enorme desejo de ser do outro sexo, ou uma insistência em afirmar que ele ou ela é do sexo oposto (ou de um sexo alternativo, diferente daquele que lhe foi atribuído).
- Nos meninos (sexo atribuído), uma forte preferência pelo travestismo, ou por simular a vestimenta feminina; nas meninas (sexo atribuído), uma forte preferência pelo uso de roupas tipicamente masculinas, e uma forte resistência ao uso de roupas tipicamente femininas.
- Preferências acentuadas e persistentes por exercer o papel social do sexo oposto, ou fantasias sobre pertencer ao outro sexo.
- Uma notória preferência por brinquedos, jogos ou atividades normalmente utilizados ou praticados pelo sexo oposto.
- Uma notória preferência por brincar com colegas do sexo oposto.
- Nos meninos (sexo atribuído), uma forte rejeição aos brinquedos, jogos e atividades tipicamente masculinos, além de ter uma forte rejeição aos jogos bruscos; nas meninas (sexo atribuído), uma forte rejeição aos brinquedos, jogos e atividades tipicamente femininos.
- Um grande desgosto com a própria anatomia sexual.
- Um forte desejo de possuir as características sexuais, tanto primárias quanto secundárias, correspondentes ao sexo ao qual se identifica.
- O problema está associado a um mal-estar clinicamente significativo, causando deterioro no âmbito social, escolar e em outras importantes áreas de funcionamento.